AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ, CAMARÁ!
JUCA FERREIRA
Precisamos resgatar a memória de João Goulart, recuperar as lutas políticas e sociais daquela conjuntura, a agenda daquele período e torná-las conhecidas pelas novas gerações. Porque em muitos aspectos, permanecem atuais.
Querem fazer com Lula o mesmo que fizeram com ele: deletá-lo da vida política, apagar sua memória, manchar sua imagem e anular sua relevância. Como Dória está fazendo com os grafites: borrar com cinza.
O golpe, a ditadura, sua censura com interdições à livre circulação das ideias, e a onda revolucionária da década de 1960 possibilitaram uma ruptura profunda com aquela conjuntura, com os protagonistas e com os temas em debate público até então. Isso contribuiu para que os golpistas tivessem sucesso nessa empreitada de soterrar a memória política e social.
As grandes transformações por que passou o Brasil a partir de 1964 (uma grande migração do campo para as cidades, principalmente para oito regiões metropolitanas, uma nova classe média criada pela economia, a verticalização da estratificação social depois do golpe) e o mundo da época possibilitaram aos golpistas apagar a memória do Brasil pré golpe de Estado.
A ditadura produziu um misto de interdição do debate, por meio da censura, a prisão e tortura dos opositores e a manipulação da opinião pública através de novos meios de comunicação que eram verdadeiros porta-vozes do governo. E, fez com que o povo brasileiro "esquecesse" o que estava em jogo quando o golpe foi dado. Fizeram o mesmo trabalho no Chile, com a figura do ex-presidente Salvador Allende.
Acho que, para reconstruir um projeto político democrático para o Brasil, com capacidade de disputar a hegemonia política, teremos de retomar esse fio da meada e recontextualizar, nos dias atuais, as lutas do povo brasileiro.
Concordo que boa parte da pauta daquele período ainda é relevante. Mas é importante considerar que o mundo deu 30 voltas de lá para cá e aquela agenda só se atualizará se for contemporaneizada e amalgamada com uma agenda do século XXI. Muitos aspectos do mundo em que vivemos não eram realidade e nem mesmo previstos por ninguém. Quando muito, eram parte da ficção científica da época.